Crowdlending: já não precisa dos bancos para obter um empréstimo - Deco Proteste

Crowdlending: já não precisa dos bancos para obter um empréstimo – Deco Proteste

junho 5, 2024
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Em 1997, alguns fãs dos Marillion lançaram um apelo na internet. Queriam angariar dinheiro para financiar uma tournée do grupo de rock inglês aos Estados Unidos. O que antes era impensável – pedir dinheiro a pessoas desconhecidas – era agora possível com uma simples mensagem no computador. Resultado: reuniram 60 mil dólares, e o desafio ficou conhecido como a primeira ação de crowdfunding. Um sucesso.
O grupo inglês deixou a editora discográfica e propôs aos fãs financiarem os seus próximos álbuns em troca de edições especiais de CD. Esta forma, um pouco amadora, de angariar dinheiro evoluiu e profissionalizou-se.
O crowdfunding deixou de ser apenas uma forma de angariar donativos online e desdobrou-se em mais três modalidades de financiamento colaborativo: com recompensa, de capital e por empréstimo, conhecido como crowdlending. É deste modelo que vamos tratar neste artigo: uma empresa ou pessoa propõe, através de uma plataforma, um investimento e, em troca desse financiamento, paga juros.
A primeira plataforma de crowdlending surgiu no Reino Unido, em 2005. Depois da Zopa, muitas outras surgiram em vários países, sobretudo após a crise financeira de 2008. O dinheiro tornou-se um recurso escasso e a dificuldade de acesso ao crédito através dos canais normais tornaram as empresas de crowdlending uma opção atrativa. A China e os Estados Unidos, em conjunto com o Reino Unido, são atualmente os países que albergam o maior volume de investidores e de empréstimos. Por exemplo, a Lending Club, a maior plataforma dos Estados Unidos, tem hoje 2,4 milhões de clientes e 35 mil milhões de dólares domiciliados.
As plataformas não são, porém, o santo Graal do financiamento. Comportam um risco elevado, nem sempre percebido pelos investidores. Como disse recentemente o responsável pelo Financial Conduct Authority − supervisor comportamental do sistema financeiro britânico −, não há garantias de que os clientes não percam dinheiro. Na opinião de Andrew Bailey, o desafio dos reguladores é acompanhar a inovação tecnológica e proteger os investidores. A União Europeia está a preparar um regulamento comum cujo objetivo é uniformizar os requisitos de acesso, deveres e responsabilidade das plataformas. Resta saber se prevalecerá sobre a legislação de cada país.
Na edição 982 da PROTESTE INVESTE, constatámos que havia uma plataforma que operava no vazio legal e apresentava falhas e riscos para o investidor. Decidimos, por isso, ver o que se passa agora com quatro plataformas com projetos no País − ClicInvest, Housers, PortugalCrowd e Raize − e analisar os fatores que o investidor deve ter em conta antes de se aventurar no financiamento colaborativo.
Em Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) aprovou, em 2015, o regime jurídico que regula a atividade destas plataformas e publicou, em 2016, o regulamento. Em fevereiro, entrou finalmente em vigor o regime sancionatório. Desde 2014 que alertávamos para a necessidade de legislação.
Há cerca de dois meses, a CMVM comunicou-nos que estava quase a concluir os primeiros registos das plataformas, mas, até à data de publicação deste artigo, não existia no site da entidade supervisora a lista das empresas gestoras, que estão autorizadas a operar, ou em processo de registo. Por este motivo, contactámos as plataformas analisadas.
Apenas a Raize está registada. A Housers está inscrita na supervisora espanhola e já submeteu a candidatura à CMVM, aguardando deliberação. A ClicInvest também está à espera da conclusão do processo burocrático. A Portugal Crowd, apesar de ter o site ativo, comunicou-nos que suspendeu temporariamente a sua atividade e cancelou a análise, publicação e comunicação de novos pedidos de empréstimo na plataforma enquanto prepara o processo para apresentar à supervisora portuguesa.
Depois de efetuarmos a subscrição, como potenciais investidores nas plataformas, concluímos que o processo utilizado na ClicInvest é o mais completo. Tem um questionário obrigatório para definir o perfil e medir os conhecimentos financeiros do investidor. A Raize tem apenas um campo para declarar os montantes investidos.
Todas as plataformas devem disponibilizar informações sobre o projeto, nomeadamente o prazo, o montante recolhido e o montante total envolvido para o projeto arrancar, e a finalidade do investimento. Não foi fácil avaliarmos, em junho, esta questão, na medida em que a Raize, a ClicInvest e a PortugalCrowd não tinham projetos para investir em aberto. Ou seja, já estavam a decorrer ou em processo de reembolso.
Na ClicInvest, independentemente da fase do projeto, é possível ter acesso a alguma informação (financeira, pessoal e institucional) do beneficiário do empréstimo. O mesmo acontece na Housers, onde conseguimos aceder a documentos de apoio à análise do projeto. Tal não acontece nas outras duas plataformas nacionais. Todas falham, porém, na disponibilização das informações fundamentais destinadas aos investidores de financiamento colaborativo (IFIFC), algo que consideramos relevante e que, de acordo com a legislação, representa uma violação dos deveres de informação.
Consoante o tipo de plataforma, é comum os beneficiários dos empréstimos darem garantias reais ou pessoais. Por exemplo, nas plataformas relacionadas com projetos imobiliários, é usual haver uma garantia real associada. Convém ter em conta que os registos de hipoteca obedecem a uma graduação. Isto é, aqueles que ficam com os primeiros graus das hipotecas têm preferência sobre os seguintes. Assim, os investidores menos informados podem aceitar uma garantia mais fraca por mero desconhecimento. A questão que se põe é: como medir o risco do investimento quer haja garantias reais ou pessoais?
A maioria dos empréstimos realizados através destas plataformas é feita a empresas. As gestoras recorrem, por isso, aos dados contabilísticos e fiscais da companhia para definir o risco. Podem ainda solicitar documentação adicional, inclusive aos gestores ou avalistas da entidade beneficiária. Esta informação é muito semelhante à que os bancos pedem para conceder empréstimos.
Convém relembrar que, no crowdlending, a cada oportunidade é atribuído um nível de risco e que a este está associada uma taxa de juro do empréstimo. Nalgumas plataformas, como na Raize, a avaliação do risco é efetuada por uma equipa interna com metodologia própria. Noutras, como a ClicInvest, a análise é assegurada por uma empresa externa, o que nos parece positivo. Adicionalmente, permite comparar com outros ratings atribuídos por casas de crédito internacionais certificadas.
Independentemente deste rating, o investidor deve, antes de emprestar o seu dinheiro através de uma plataforma, conhecer o tipo de negócio e o mercado local e, se possível, saber analisar a documentação, para ver como evolui o negócio. Por exemplo, a ClicInvest disponibiliza alguma informação contabilística das empresas. Dê especial enfoque à solvabilidade da companhia:
Por exemplo, na ClicInvest, um projeto da EsquadriaÓrbita (que foi, entretanto, financiado) apresentava uma autonomia financeira de 83%, uma rentabilidade dos capitais próprios 26% e um nível de endividamento de 0,29. Neste caso, o nosso conselho seria investir.
Caso o empréstimo se destine a particulares, analise a documentação fiscal, bancária e pessoal, por forma a medir o perfil e a taxa de esforço do beneficiário. Adicionalmente, pode ser solicitado um fiador ou uma garantia real (hipoteca de imóvel). Se for o caso, a garantia real deve ter um valor superior ao do empréstimo e, de preferência, não ter outros ónus ou encargos. Se a taxa de juro oferecida for superior à praticada pelo sistema financeiro tradicional, convém questionar o porquê de o beneficiário do empréstimo estar disposto a suportar uma taxa de juro maior.
Peguemos num exemplo concreto que esteve em processo de recolha de fundos na Housers, e que na sua oportunidade mais recente já disponibilizava uma avaliação certificada: compra de um imóvel, melhorias e posterior arrendamento, de um T1 com 49 m2 na Rua Maria Pia, em Lisboa. A recolha de fundos era de 193 mil euros e a rentabilidade anual líquida anunciada de 4,05%, com uma perspetiva adicional de valorização de 5,1%.
Primeiro, analisámos o valor de compra. Segundo um site da especialidade, os preços variavam entre 140 mil e 365 mil euros. Na nossa opinião, os 193 mil euros de investimento eram elevados.
Segundo, para uma rentabilidade anual de 4,05%, é necessária uma renda mensal líquida de impostos e encargos de 652 euros, o que equivale a um valor bruto de 906 euros. Se tivermos em conta o valor médio dos arrendamentos naquela zona, a rentabilidade é de 4,24%. Ou seja, não aconselharíamos a investir.
De salientar, que a promotora de alguns projetos em Lisboa é a mesma, algo que deve ter em conta. Revela pouca diversificação do risco.
Tal como em 2014, consideramos que o financiamento colaborativo tem um risco elevado para quem empresta. Não tanto pelos projetos, mas porque as plataformas não cumprem a lei na totalidade, o que levanta questões de salvaguarda quando algo corre menos bem.
Se investir por sua conta, tenha em mente os nossos conselhos. Mitigue o risco, certificando–se de que a plataforma − nacional ou estrangeira − está registada. Procure saber exatamente no que está a investir. Não aplique mais de 5% da sua carteira de investimentos neste tipo de projetos.

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