Médio Tejo
Uma região, um jornal
Não têm sido tempos fáceis para Gavião no que toca a médicos de família no concelho. Um novo episódio surgiu pelo facto de a extensão de saúde de Comenda estar sem médico desde abril, tendo também estado sem assistentes até à semana passada, após uma tentativa de agressão por um utente que levou a que o clínico contratado negasse ali se deslocar para dar consulta.
O vereador na Câmara Municipal de Gavião eleito pela CDU, Rui Vieira, alertou para “um assunto gravíssimo” e insustentável para os comendenses que são obrigados a fazer cerca de 36 km até ao centro de saúde da sede de concelho para aceder a cuidados de saúde. Também José Pio (PS), presidente de Câmara, considerou “inadmissível” que não sejam prestados “serviços mínimos” na extensão de Comenda, tendo dado conta de que iria estabelecer contacto para perceber o que se passa para a não prestação de cuidados naquela extensão de saúde.
Tudo começou com uma tentativa de agressão por um utente ao clínico que estava a exercer na extensão de Comenda até junho, situação que levou o médico a recusar prestar futuramente atendimento naquela freguesia. As autoridades foram chamadas ao local, mas o clínico não quis apresentar queixa.
Rui Vieira referiu que foi colocado um comunicado do Centro de Saúde de Gavião nos cafés e locais públicos de Comenda que informava que “a extensão de saúde estava encerrada temporariamente”.
O vereador disse não compreender o porquê da ausência do médico, uma vez que poderia até pedir proteção das autoridades se se sentisse ameaçado. Por outro lado, afirmou que “toda a gente desistiu de dar apoio à população, nomeadamente a mais idosa”, mencionando o facto de também os serviços administrativos terem sido suspensos e o serviço de enfermagem.
“Isto é uma coisa inexplicável, que não tem qualquer sentido. Tem que se fazer qualquer coisa a curto prazo”, afirmou, dando conta de contacto do presidente de junta de Comenda à direção da ULSNA.
O presidente de junta de Comenda, Abílio Mendes, fez chegar o seu descontentamento no início de maio à ULSNA (Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano), via e-mail, referindo que perante este cenário alguns utentes chegam a ser chamados ao Centro de Saúde de Gavião para consulta, obrigando a uma viagem de ida e volta de 36 km, e com recurso a táxi, uma vez que não existe uma rede de transportes públicos favorável a estas deslocações. Por outro lado, as pessoas idosas, com reformas baixas, veem-se obrigadas a pagar valores altos para se deslocar a Gavião.
A certa altura também os serviços administrativos e de enfermagem deixaram de fazer atendimento na Comenda, com a ausência do médico, deixando as pessoas desamparadas, causando constrangimentos até para efetuarem pedidos de renovação de medicação e obrigando a várias viagens entre o pedido de receita e o levantamento da mesma. Em causa estaria também a colheita de análises.
Em reunião de executivo, José Pio, presidente da Câmara Municipal, disse concordar com Rui Vieira (CDU), considerando ser “inadmissível” que a extensão de saúde estivesse encerrada. “Não consigo aceitar isso de forma alguma”, frisou José Pio.
“O grande problema é a falta de médicos, o próprio centro de saúde em Gavião está descoberto de atendimento médico uma grande parte do tempo”, reconheceu. O edil disse que iria contactar a direção do Centro de Saúde de Gavião para perceber o que se passava, crendo que se exige a prestação do “mínimo dos serviços”, desde logo em termos de receituário, análises clínicas, prescrição de exames complementares, e que podem deslocar-se uma ou duas enfermeiras e uma assistente administrativa a Comenda.
O autarca acrescentou, à parte, que o médico contratado para o Centro de Saúde de Gavião ao abrigo do apoio suplementar para fixação de médicos de família, ao invés de estar a fazer 44 horas semanais no concelho, está a cumprir 10 horas, não estando por isso a cumprir com o seu compromisso depois de a autarquia ter cedido às suas solicitações.
Quanto ao médico contratado pela ULSNA para atender em Comenda, que estava previsto ali permanecer até junho, notou que este se sentiu ameaçado e “desistiu”, tendo a tentativa de agressão precipitado a saída do profissional de saúde.
O presidente confirmou esta segunda-feira, dia 29 de maio, que os serviços administrativos e atendimento de enfermagem foram restabelecidos na extensão de saúde de Comenda, ocorrendo todas as quintas-feiras à tarde. Porém, continua a não haver atendimento médico, aguardando o autarca uma reunião com médico que se encontra a clinicar no Centro de Saúde e que está contemplado com o apoio complementar dado pela Câmara de Gavião para fixação de médicos de família.
Recorde-se que a autarquia gavionense conseguiu um acordo com a ULSNA para contratação do médico Jorge Rebelo, que iria garantir atendimento no Centro de Saúde e na extensão de saúde de Comenda. A Câmara vai despender cerca de 11 mil euros anuais para garantir a permanência de um médico de família a tempo inteiro e a médio-longo prazo no Centro de Saúde de Gavião.
A medida assenta no apoio à fixação de médicos de família, e resulta de negociações ao longo dos últimos meses em conjunto com a ULSNA para garantir a contratação de um médico de família. A falta de médicos continua a ser um problema, pois o ideal seria assegurar pelo menos três clínicos ao serviço da população do concelho a tempo inteiro.
A par desta informação, foi ainda referido o retorno do registo estatístico da Unidade Móvel de Saúde ao executivo municipal. José Pio destacou “a bastante atividade que tiveram no uso do veículo que se desloca às povoações”. Esta Unidade Móvel entrou ao serviço em 2010 num protocolo entre a ARS Alentejo, a Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA) e a Câmara Municipal de Gavião.
“Registar com agrado o regresso da informação, bem como a excelente atividade que vão desenvolvendo em todo o concelho”, destacou o edil, tendo o vereador do PSD, Vítor Filipe, reiterado as palavras do presidente de Câmara.
O objetivo desta unidade móvel, segundo a ARS Alentejo, é proporcionar maior acessibilidade e melhor qualidade na prestação de cuidados de saúde em Medicina Geral e Familiar às populações nas várias localidades do concelho. São prestados cuidados na área clínica e de enfermagem, apoio domiciliário, é feita vigilância ao abrigo de Programas de Saúde dirigidos à diabetes, hipertensão, anticoagulação oral, etc, vigilância do estado de saúde de idosos, cuidados a acamados, promoção de rastreios, cumprimento de plano de vacinação e promoção de iniciativas de saúde escolar.
A Câmara Municipal de Gavião assegura os custos com o combustível e a manutenção, bem como o motorista, além de técnicos de Ação Social, quando necessário, que prestam apoio social aos utentes, nomeadamente aos idosos.
Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza… também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.
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