Médio Tejo
Uma região, um jornal
Foi um 10 de Junho diferente e de muitas emoções o que se viveu este fim-de-semana em Gavião, com a inauguração da Casa das Artes e do complexo da Eco Laguna, no centro da vila, incluindo também o Museu da Música e o monumento ‘Sopro do Alentejo’ de homenagem à Banda Juvenil que celebrou os 34 anos de existência também este sábado. A concretização e abertura à comunidade de uma “obra há muito sonhada e desejada” deixou o autarca da Câmara Municipal de Gavião, José Pio, muito feliz, assumindo este momento como um dos mais marcantes enquanto presidente daquele município.
O objetivo passa por “contribuir para a riqueza cultural do concelho”, e José Pio clamou que “a obra desejada, sonhada, nasceu!”, reconhecendo ali “um espaço com grande potencial”, que se encontrava em avançado estado de degradação, tendo sido adquirido pela autarquia em 2014.
José Pio falou, durante o seu discurso, de “um dia tão importante que ficará na História e na memória das nossas gentes”, com muito significado para Gavião e para os autarcas que veem a obra concluída “e extraordinariamente bem conseguida”.
“Quando os homens sonham, e a obra nasce, fica sempre para trás um caminho que foi necessário percorrer. Um caminho complexo que demorou mais de oito anos e que obrigou também a remover muitas pedras do caminho”, mencionou o edil, referindo-se a constrangimentos processuais que foram ultrapassados, bem como “adversários desta obra (…) ressentidos e traiçoeiros, ao ponto de tudo terem feito para bloquear a realização desta magnífica obra. Como autarca lamento e não esqueço todos aqueles que se ocuparam em colocar entropias e promover ruído, não apenas neste processo e neste empreendimento, mas também noutros que geram desenvolvimento para o concelho e elevam a qualidade de vida da população e das suas instituições”, disse.
Este complexo da vila resulta da obra de requalificação da antiga Casa de João Ascensão e arranjo paisagístico envolvente, num investimento global de 1,5 milhões de euros comparticipados em 85% por fundos comunitários.
A cerimónia, presidida por António Ceia da Silva, presidente da CCDR Alentejo, arrancou com a Banda Juvenil do Município de Gavião a entoar o seu hino, no dia em que soprou as 34 velas da sua existência.
Numa cerimónia que contou com a comunidade em peso, houve vários momentos de louvor e congratulação, nomeadamente à Banda Juvenil, que a 10 de junho de 1989 fez a sua primeira saída sob a batuta do maestro Sílvio Pleno (falecido em 2015). Um projeto cultural agregador e de sucesso que conta com cerca de 120 crianças e jovens envolvidos não só na Banda propriamente dita, mas também na escola de música, e que vêm de todas as freguesias do concelho e também de localidades de concelhos vizinhos.
“O maior embaixador cultural do concelho”, segundo José Pio, teve direito não só a um monumento como a um espaço museológico onde foram homenageados os principais fundadores, Jaime Estorninho e Maestro Capitão Sílvio Pleno, que dão nome a duas salas do Museu da Música.
José Pio não esqueceu também a referência a Paulo Pires, presidente da Assembleia Municipal e diretor do Agrupamento de Escolas de Gavião, mas que tem também ligação à Banda Juvenil há mais de 30 anos, tendo sido executante e maestro adjunto, e passando a maestro principal até aos dias que correm.
“Caro amigo Paulo, hoje em dia, falar da Banda Juvenil é falar de ti. Testemunho há muitos anos a tua dedicação e amor a esta causa. Fui pai de elementos da banda, fui presidente da direção da Banda, e hoje nas funções que desempenho, continuo a ver o mesmo jovem dedicado e empenhado na formação de centenas de jovens que ao longo dos anos vão passando por esta casa. Muito obrigado em nome de todos os gavionenses. Continuamos juntos”, disse o presidente de Câmara.
Também a artista Cristina Maria, autora do monumento “Sopro do Alentejo” – que contém um saxofone e um sobreiro enquanto símbolo do Alentejo – de homenagem à Banda Juvenil de Gavião, cantou fado de Amália Rodrigues, “Estranha Forma de Vida”, acompanhada de João Vaz na guitarra portuguesa.
Na ocasião foi colocado à disposição dos visitantes um livro alusivo ao novo equipamento da vila de Gavião, fazendo o seu contexto histórico e abordando o projeto de requalificação da antiga Casa de João Ascensão e da envolvente.
Presente na iniciativa esteve Ana Paula Amendoeira, da Direção Regional de Cultura do Alentejo, e que no seu discurso realçou a importância e o papel das bandas filarmónicas na região, bem como o ensino da música nas áreas de baixa densidade.
A diretora regional frisou que este projeto agora inaugurado é importante não só para Gavião, relevando que a cultura é o que se faz diariamente e que promove a coesão comunitária e social. A Casa das Artes “é um verdadeiro centro cultural”, disse, reconhecendo a importância que o movimento filarmónico tem no Alentejo, e relevando o trabalho desenvolvido com os jovens e prestando homenagem ao maestro Sílvio Pleno, “uma figura de referência para o movimento filarmónico e para as bandas militares em Portugal, e para o Alentejo em primeiro lugar”.
A responsável indicou também que Sílvio Pleno “é um exemplo de fidelidade, de trabalho comunitário, trabalho na educação cultural através da música e das gerações mais novas, aquilo em que devemos investir os nossos meios e fazer uma gestão correta e séria dos dinheiros. Não podemos ter melhor sítio para os aplicar que é no investimento das gerações mais novas”.
“É um dos grandes exemplos que o Alentejo dá ao país é este afinco na Educação Musical através de autênticas escolas de música, que são as bandas”, sublinhou, parabenizando José Pio pela opção política de investimento na banda.
“A grandeza do Alentejo é a nossa cultura e a identidade cultural”, afirmou, referindo que o Alentejo tem cultura e que os alentejanos é que têm de a fazer. “Têm é que nos dar apoio para nós termos as nossas instituições para fazer a nossa cultura”, concluiu, sendo fortemente apoiada e aplaudida nesta mensagem reivindicativa, corroborada pelo autarca gavionense José Pio.
Por seu turno, António Ceia da Silva, presidente da CCDR Alentejo, acompanhado pelo vogal do Programa Regional Alentejo, Tiago Teotónio Pereira, começou por saudar “duas figuras ímpares do país”, João Galinha Barreto e Jaime Estorninho, antigos presidentes de Câmara de Gavião.
Elogiou a “revolução enorme” no centro de Gavião, necessário há vários anos, e entendendo que José Pio “deixa uma obra que orgulha os gavionenses, mas deve-te orgulhar principalmente a ti e à tua família”.
Ceia da Silva referiu ainda que está a ser concluído o Programa Operacional 2022, mas que está a ser preparado o Programa Regional 2030. Fez alusão a uma das grandes preocupações, a de fixar população no concelho. “Não podemos perder mais um filho, um neto, que esteja longe das suas origens. E esse é um esforço que todos temos de fazer, e para isso, é necessário boas escolas, bons centros culturais haver piscinas, ver boas acessibilidades e temos que lutar por isso”, exemplificando que é necessário criar mais e melhores condições nomeadamente em termos de acesso à rede móvel e Internet.
Resultando num centro de lazer e cultura, na Rua Dr. Dias Calazans, nº34, integrado num complexo turístico, cultural e social que dá numa nova centralidade à vila de Gavião, junto à sede do Agrupamento de Escolas e às piscinas cobertas municipais, este foi um projeto assinado pelos arquitetos Victor Lopes Soares, Ana Vieira da Silva e Filipa Soares, do gabinete de arquitetura e topografia Cubismo. A empreitada foi executada pela empresa 4Mb Construções.
Foi descerrada a placa de inauguração e partiu-se para uma visita ao novo atrativo do concelho. A agora Casa das Artes – no passado também conhecida por Casa da Noiva – era pertença de João Pedro Ascensão, por herança, tendo sido construída na primeira metade do século XX. Dado o muito espaço disponível junto do edificado, foi projetada uma zona ajardinada com uma piscina descoberta sustentável, uma Eco Laguna, que se destaca pela sua forma, composição e pelos tons no espelho de água que não deixam ninguém indiferente, como se se de um oásis no centro da vila se tratasse.
Neste novo complexo, a partir do edifício de primeiro piso, existem diversos equipamentos e infraestruturas de apoio e para fruição do público.
A Casa das Artes contém um logradouro de acesso público, com espaço ajardinado, espelhos de água e que contém o monumento Sopro do Alentejo, da autoria de Cristina Maria, e que é uma homenagem à Banda Juvenil do Município, que a 10 de junho, comemorou os seus 34 anos de existência.
A casa contém o posto de turismo no piso 0, bem como a loja de produtos regionais e tradicionais, e na entrada foi recuperada uma sala para apresentação e prova de produtos regionais. Nas traseiras há uma esplanada aberta ao público em geral.
A Casa das Artes estará aberta de terça a domingo, entre as 10h00 e as 18h00.
No primeiro piso existe um Museu da Música, com duas salas-homenagem dedicadas ao Maestro Capitão Sílvio Pleno e outra a Jaime Estorninho, contendo fotos históricas, documentos e partituras, todo um espólio que inclui instrumentos, fardamento e lembranças de presença em encontro nacionais e internacionais.
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Ao lado existe o espaço de Galeria de Arte, com duas salas, uma dedicada à exposição permanente de Luís Rodrigues, “Quimera”, onde o autor se expressa através da moldagem de aço e ferro fazendo criações do mundo fantástico, com personagens de caraterísticas muito próprias e realistas.
Outra sala destina-se a exposições temporárias, que irão sendo renovadas ao longo do tempo, e que para já conta nos próximos dois meses com obras do escultor Artur Gueifão, natural de Furtado (Belver), conhecido pelas réplicas fiáveis em pedra de fornos, moinhos, chaminés, janelas e fachadas de casas típicas, nomeadamente as do Alentejo.
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Na zona exterior e envolvente, pode contar-se com a portaria do lado da Rua 23 de Novembro, para entrada na Eco Laguna, inserindo-se no meio um espelho de água, inspirada nas represas das herdades do Alentejo – mas esta com pormenores diferenciadores, como uma cascata e zona de hidromassagem. O espaço dispõe ainda de balneários e posto médico, bar e esplanada. A zona de maior profundidade é de 1.60 metros, com declives suaves em zonas sinalizadas.
Esta piscina em piso de areia agregada anti-derrapante, conta com o conceito “rock gardens”, ou seja, formações empedradas e rochosas que enquadram a laguna e lhe conferem um aspecto natural com a vegetação. Foi inclusive pensada para todo o tipo de utilizadores: para crianças, seniores e pessoas portadoras de deficiência com acessos definidos com diferentes inclinações.
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A tarde soalheira e de calor, rompendo com a chuva dos últimos dias, veio permitir um fervoroso brinde e o convívio da comunidade naquele que promete ser o espaço predileto no concelho para este verão, atraindo miúdos e graúdos e captando certamente a atenção dos turistas.
Prova disso foi a rapidez com que as crianças se atiraram à água, estreando a nova piscina descoberta, perante os olhos curiosos dos adultos, provavelmente desejosos de fazer o mesmo, mas que foram aproveitando para conhecer de perto o espaço participando num beberete numa tarde de convívio com música e animação, prova de vinhos comentada e onde houve direito a bolo de aniversário da Banda.
A Eco Laguna ainda não tem regulamento oficial, mas as normas estabelecem um custo de 3 euros de entrada para adultos. A entrada é gratuita para crianças até aos 6 anos. Há descontos para jovens e seniores do concelho. Além disso existe possibilidade de comprar um passe com 10 entradas e ter acesso a outras comodidades como aluguer de espreguiçadeira.
A piscina descoberta estará aberta até 10 de setembro, funcionando de terça a domingo, das 10h00 às 19h00.
Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza… também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.
2 Comentários
Li com atenção o seu artigo sobre a inauguraçao da Casa das Artes, antiga Casa de João Pedro Ascensão, meu tio-avô. A Câmara de Gavião está de parabéns pela recuperação e atribuição de várias valências a esta casa que já foi minha e onde vivi durante um ano, 1987/1988. Acontece que reparei em dois disparates, não sei se da autoria da jornalista Joana Santos, ou se esta foi mal informada. Nestas coisas, o mais sensato e lógico é ir às fontes mais fidedignas, como informarem-se junto de familiares do antigo proprietário. Essa casa NUNCA foi conhecida por Casa da Noiva, eu próprio nunca o ouvi no seio da minha família, era sempre denominada Casa do Sr. João Ascensão, aliás privei ainda bastante com o meu tio até ao seu falecimento em 1983. O outro disparate que notei é que a referida casa foi mandada construir pelo proprietário em 1919, orçada perto dos 20 contos de reis, cuja planta foi elaborada pelo seu tio Coronel de Cavalaria João Rodrigues Ascensão, que viveu no Porto, logo não foi herdada. Lamento que não tenha havido mais cuidado na investigação sobre a história desta casa.
Bom dia. Agradeço a sua leitura e o seu comentário.
Esta informação foi cedida pelo Município de Gavião e tida como boa por mim, uma vez que integra uma publicação impressa lançada no dia da inauguração e que contextualiza a obra e o espaço, até historicamente.
De todo o modo irei averiguar e analisar os factos e proceder em conformidade.
Grata pela atenção,
Cumprimentos
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