Médicos "não querem vir para o Interior e não há quem queira vir para Gavião" - Autarca - mediotejo.net

Médicos "não querem vir para o Interior e não há quem queira vir para Gavião" – Autarca – mediotejo.net

junho 27, 2024
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Médio Tejo
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A falta de médicos no concelho de Gavião atingiu um nível ainda mais dramático do que previsto, com o Centro de Saúde a voltar a estar sem médico de família. A população está a contar apenas com um médico aposentado que tem estado a prestar algumas horas de serviço à comunidade. As extensões de saúde de Comenda e Margem estão sem cobertura médica. A situação está a deixar a autarquia “extremamente preocupada” e não se antevê solução antes do próximo ano.
“O concelho de Gavião tem tido muitas dificuldades em conseguir manter médico de família no Centro de Saúde, neste momento apenas contamos com um médico já aposentado que está contratado pela ULSNA e que faz 20 horas no centro de saúde de Gavião, dando ainda resposta à extensão de saúde de Belver”, explica José Pio, presidente da Câmara Municipal de Gavião, no Alto Alentejo.
Acontece que as outras extensões de saúde, Comenda e Margem, “estão perfeitamente a descoberto” pois não têm médico de família, nem há nenhum médico a ir fazer atendimento uma vez por semana, como aconteceu noutras alturas, para atender os utentes dessas freguesias. “Estamos extremamente preocupados”, revela o presidente de Câmara.
A situação piorou com a saída do médico de família Jorge Rebelo, depois de uma contratação que não foi frutífera e que deixou a Câmara de Gavião desgostosa com a prestação e postura do clínico, que não estaria a cumprir com o acordo assinado em março, que garantia a atribuição de um apoio extraordinário mensal por parte da autarquia (cerca de 900 euros) além do vencimento, sendo certo que também havia chegado a acordo com a Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano para se manter em Gavião.
Acontece que o médico não cumpria com as horas estipuladas, segundo a autarquia, e não teria a melhor postura no atendimento à população no Centro de Saúde.
Perante este facto, a Câmara Municipal chegou a reunir nas últimas semanas com uma outra médica, tendo sido feita proposta pela autarquia e pela ARS, e o acordo somaria mais dois mil euros ao ordenado.
Porém, segundo indicou o autarca gavionense, a médica preferiu rescindir com a ULSNA, deixando de prestar serviço em Nisa, onde estava até então, e ir para o distrito de Castelo Branco, para prestar serviço em Vila Velha de Ródão.
“Não consigo perceber porquê. Acho que a clínica quando percebeu que se calhar seria a única médica num universo de 4 mil utentes ficou um bocado receosa e optou por ir embora. O que senti, apesar de ter ficado convencido que viria para Gavião, é que demonstrava receio com o facto de ficar com um universo muito grande de utentes a seu cargo. Optou por dar outro rumo à sua vida, e é legítimo”, referiu José Pio, em declarações ao nosso jornal.
A falta de médicos tem sido um problema de “bola de neve”, sendo que no caso de Gavião algo tem estado a a afugentar clínicos, aparentemente a falta de apoio na distribuição de trabalho pode ser uma razão, uma vez que a autarquia já assumiu que o ideal seria o concelho poder contar com três médicos ao serviço dos utentes e extensões de saúde nas freguesias de Comenda e Margem.
“Apesar do apoio que a Câmara Municipal se dispôs a pagar para além do ordenado do médico, também sei que a ULSNA está disponível para considerar qualquer clínico que venha para Gavião para ocupar a vaga de carenciado que existe no concelho, o que aumentaria o rendimento em mais de 1000 euros para além do ordenado. Juntando ao valor atribuído pela Câmara estamos a falar de mais 2 mil euros [que acrescem ao vencimento mensal], mas nem assim conseguimos fixar um médico neste centro de saúde”, lamenta o autarca, assumindo estar com uma “preocupação extrema” sobre este assunto.
Tem feito sentir esta mesma preocupação junto da ULSNA, entidade responsável pela colocação de médicos e profissionais de saúde na região, Pio afirma perceber “que não há médicos, é a principal questão”.
“Os médicos não querem vir para o Interior e não há quem queira vir para Gavião”, lamenta José Pio
Não tendo soluções, uma vez que a competência de contratação de profissionais de saúde é das entidades tutelares, José Pio defende que “o Governo vai ter que tomar medidas”.
José Pio entende que o Governo deve ponderar, recuando a outros programas que existiram no passado no sentido de fixar jovens médicos nas regiões com maiores necessidades, logo no início de carreira, e que contribuíram para melhores condições de atendimento e acompanhamento na prestação de cuidados primários de saúde.
“Recordo-me há uns anos, quando os médicos acabavam os estudos, teriam de fazer alguns anos nestes centros de saúde de zonas mais periféricas do Interior. Lembro-me dos P1, P2 e P3, que fizeram um excelente trabalho nestas zonas, e muitos deles fixaram-se nestas terras fosse por casamento, fosse porque gostaram, fosse porque sentiram que aqui se pode ter uma vida extremamente agradável. O desafio que fica é isso mesmo: se o Governo investe tanto na formação dos médicos, eles vão ter que dar algo ao país em contrapartida do que é a sua formação”, argumenta.
A autarquia tem mantido contacto com a ULSNA, que já revelou a possibilidade de uma médica se fixar na zona a partir de janeiro de 2024. “Quero acreditar que isso é uma possibilidade e que nessa altura vamos ter novamente alguém a residir nesta zona”, frisa.
“Hoje em dia é muito importante ter um médico no centro de saúde, mas também é importante que o médico se fixe nesta zona para conhecer objetivamente a realidade destas populações, com alguma idade, que precisam tanto de um médico como de algum carinho e falar com ele, e perceberem que ser um bocadinho mais velho não é uma doença, é uma condição da vida humana e que se pode continuar a viver bem. Os médicos têm que ter essa sensibilidade, fixando-se poderão tê-la de forma mais objetiva”, defende o presidente de Câmara.
O autarca diz sentir na pele o descontentamento e as carências da população do concelho, pois apesar de as autarquias não terem competência nesta matéria de contratação de médicos e profissionais de saúde, “é um facto é que quando acontece um problema seja no centro de saúde, seja na escola, seja em qualquer lado, a Câmara é o primeiro sítio a que recorrem. Somos sempre os culpados de as coisas não correrem como querem”.
“Esforçamo-nos tanto e fazemos tudo o que é possível para que não só as pessoas se fixem, como os próprios médicos. Seria de todo imprescindível que viessem para cá e aqui trabalhassem em prol da população”, frisa.
Recorde-se que já no final de junho o presidente de Câmara José Pio (PS) disse que o concelho está “mal” no que toca à situação de médicos de medicina geral e familiar, vulgo médicos de família.
Um dos três médicos que se encontrava ao serviço da população acabou por se retirar em agosto. Por outro lado, rescindiu-se com o médico que veio reforçar o Centro de Saúde de Gavião, uma vez que a autarquia denunciou o facto de este não ter cumprido com o acordo assinado em março, altura em que a CM Gavião estabeleceu despender cerca de 11 mil euros anuais para atribuir um apoio mensal como complemento ao vencimento auferido e pago pela Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano ao médico Jorge Rebelo.
O médico Jorge Rebelo da Silva entrou ao serviço em 2021 enquanto reforço para o Centro de Saúde de Gavião e para dar consultas na extensão de saúde de Comenda, tendo passado a ser médico de família em permanência, perante a saída prevista de outros dois clínicos devido a aposentação.
Acontece que o concelho de Gavião continua a poder contar apenas com José Cabaço, médico aposentado que se tem sacrificado em prol das populações, e apesar de alguma falta de saúde do próprio, garantindo atendimento no centro de saúde de Gavião e na extensão de saúde de Belver.
“O Dr. Cabaço tem feito um trabalho extraordinário por este concelho. Não deixo de agradecer o seu trabalho. Tenho a certeza que vai muito além das 20 horas de serviço contratadas. Não recusa ver ninguém, não recusa passar uma receita a ninguém. Sem ele estaríamos num caos”, concluiu o presidente de Câmara.
Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza… também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.
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