31/03/2015 08h23 – Atualizado em 31/03/2015 08h23
Do G1 SC
Depois da chuva de granizo que atingiu Lages, na Serra de Santa Catarina, em outubro do ano passado, moradores denunciaram concessionárias da cidade, que venderam carros atingidos pelo granizo sem o conhecimento do cliente. O caso é investigado pelo Ministério Público do estado, como mostrou o RBS Notícias de segunda-feira (30).
A forte chuva de granizo que caiu na cidade de Lages no dia 13 de outubro do ano passado causou prejuízos de mais de R$ 38 milhões e atingiu 60% da área urbana do município. Cerca de 80 mil residências foram atingidas, além de milhares de veículos, que estavam nas ruas e nos pátios das concessionárias.
Um dos carros danificados foi comprado em janeiro deste ano por uma cliente que não quis se identificar. O veículo foi vendido como zero, com preço de novo, mas passou por reparos, através do serviço martelinho de ouro, técnica utilizada para desamassar a lataria do carro, sem utilizar pintura.
Ela ficou surpresa quando descobriu vestígios de reparos no carro novo. “Uma das portas estava com a pintura escorrida. O frio de acabamento da porta veio com um presilha solta. Uma plotagem de acabamento na coluna do carro também veio com estrago. Vestígios de fita crepe com a tinta da cor do carro foram encontrados no motor, paralamas”, conta.
Depois de procurar várias vezes a concessionária e não conseguir um acordo, ela gravou uma conversa com o gerente da loja pelo celular. Ele admite que alguns carros passaram por reparos depois da chuva de granizo.
“Todos os carros danificados foram feitos [reparos], realmente. Tem que olhar se esse aqui foi feito. Pelo que eu vi no capô foi feito [martelinho de ouro]”, diz o gerente na gravação.
Também em vídeo gravado pela cliente, o diretor da concessionária Superauto afirma que a determinação de fazer o conserto partiu da própria montadora. “Veículos que tiveram pequenos danos, 100% com possibilidade de conserto através do serviço de martelinho de ouro, esses veículos a seguradora efetuou o conserto e com consentimento da Ford”.
A consumidora registrou um boletim de ocorrência, e o carro passou uma perícia no IGP de Lages, que comprovou que o carro passou por reparos. Ela também protocolou uma reclamação no Procon e uma denúncia no Ministério Público estadual.
Um outro consumidor, que comprou um carro zero em outro concessionária da cidade, também foi lesado. Ele diz que o vizinho, que é chapeador, notou os reparos. “Ele constatou que havia sido feito martelinho de ouro. Eu comprei o carro como zero, então não poderia ter isso, né?”
A promotora de justiça Luciana Uller que responde pela Defesa e Direito do Consumidor do Ministério Público de Lages instaurou um inquérito civil público para apurar eventuais responsabilidades da revendedora e outras concessionárias que possam ter comercializado veículos 0km danificados sem o conhecimento do consumidor.
A concessionária foi intimada a apresentar todas notas fiscais de todos os carros vendidos depois da chuva. A promotora que conduz o inquérito civil já recebeu os documentos solicitados e, agora, deve dar continuidade à investigação.
De acordo com o advogado Pablo Buogo, consertar um carro 0km através da técnica do martelihnho de ouro não é ilegal, o problema é omitir a informação do cliente. “Você vai informar o consumidor: ‘esse carro passpu por martelinho. Tem algum problema?’ Então você vai adquirir um carro sabendo desta situação. Esconder esse tipo de informação do consumidor pode constituir crime”
O gerente da Superauto de Lages preferiu não se manifestar sobre o caso. Já a Ford do Brasil pediu o prazo até sexta-feira passada para mandar uma nota sobre as denúncias, mas nenhuma resposta foi dada até a publicação desta reportagem.
Veículos tinham passado por conserto após uma chuva de granizo. Promotoria de Justiça instaurou um inquérito para apurar responsabilidades.