Médio Tejo
Uma região, um jornal
A instalação de uma potencial plataforma logística, que se revelava como uma das maiores da Europa, na localidade de Domingos da Vinha, freguesia de Belver, junto ao nó da A23, parece ter caído por terra. Pelo menos é esse o entendimento do autarca da Câmara Municipal de Gavião, José Pio, que quando questionado pela oposição na última reunião de executivo camarário confirmou que, para si, o projeto “morreu”.
Anunciado em 2022, e confirmado pela autarquia, investidores privados estariam interessados em adquirir terrenos a proprietários para instalação de uma plataforma logística em Domingos da Vinha, num processo que sempre encerrou algum secretismo e envolveu espanto da comunidade local nomeadamente pelo valor de compra proposto, muito acima do valor real das propriedades da área em causa, até por serem minifúndio.
Questionado pelo vereador eleito pela CDU na Câmara Municipal, o presidente José Pio (PS) assumiu que para si “morreu” o potencial investimento para instalação de uma plataforma logística nas imediações de Domingos da Vinha, junto ao nó da A23.
“Nada mexe? O sr. Paulo Amaro desapareceu?”, insistiu Rui Vieira, vereador da CDU.
“A última vez que recebi contacto do sr. Paulo Amaro foi no Natal, enviou-me Boas Festas”, disse o autarca José Pio, tendo acrescentado que agradeceu e retribuiu os votos e que este foi o último contacto. “Já passaram praticamente dois meses”, frisou.
O autarca disse ainda ter tido conhecimento que chegou a ser endereçada carta aos proprietários, onde o consultor imobiliário faz acusações “à Junta de Freguesia, à Associação de Caçadores, alguns proprietários, mas também a Câmara Municipal”, imputando responsabilidades por o projeto não evoluir.
“Diz que falta darmos uns documentos, mas quanto mais documentos lhe são dados, mais ele diz que faltam. Já lhe demos tudo aquilo que precisa”, considera o edil gavionense.
“É pena o projeto não avançar”, desabafou Rui Vieira, vereador da CDU, relembrando que “era uma mais-valia para este concelho dar um salto”.
José Pio mostrou-se em concordância com o sentimento do vereador da oposição, mas não deixou de lembrar que existiam detalhes que tornavam o projeto bom demais para ser verdade. “Era preciso ser um projeto com sustentabilidade”, comentou José Pio, demonstrando continuar com dúvidas quanto ao projeto oficial, mas desejando que tal fosse realmente concretizado e uma realidade.
“Qualquer executivo municipal sentir-se-ia orgulhoso por ter ali uma plataforma logística com 120 hectares, com 5 mil postos de trabalho… Quando a esmola é grande o pobre desconfia”, diz referindo que sempre teve algumas reticências sobre o assunto.
Adiantou ainda que o consultor se foi “incompatibilizando com aqueles que o questionavam”, nomeadamente autarcas, agentes locais, representantes de entidades e comunicação social, nomeadamente com os presidentes da ZIF de Belver e da Associação de Produtores Florestais da freguesia.
“O projeto que eu vi era uma mudança do paradigma do concelho e da região, porque abrangia Mação, Gavião, Nisa, Abrantes… Tudo aqui à volta teria uma mudança”, reconheceu o autarca.
A par desta situação, o nosso jornal contactou a presidente de Junta de Freguesia de Belver, Martina Jesus, que diz também não ter tido qualquer contacto ou sabido de qualquer diligência recente em torno do potencial projeto.
“Nunca mais tive contacto por parte do consultor, e a última informação que tive conhecimento foi que lhe teria sido cedida uma sala, em Gavião, para reunir diretamente com os proprietários. Ele estava a tratar de tudo diretamente com os proprietários. Nunca mais tive conhecimento de nada”, disse a presidente de Junta, crendo que nos últimos meses o consultor imobiliário apenas terá mantido conversação com o presidente de Câmara de Gavião.
Este é um processo que já teve muitos altos e baixos, desde 2022, sendo certo que já no início de 2023 se achava que o investimento teria ido por água abaixo. No entanto, no verão de 2023 deram-se alguns sinais de que o processo estaria afinal encaminhado, com reuniões a realizarem-se presencialmente entre o consultor imobiliário e proprietários numa sala da Incubadora de Empresas de Gavião, cedida pela autarquia, mas também em Lisboa, supostamente na sede da empresa do setor imobiliário.
Na altura, o consultor confirmou ao nosso jornal que depois da ideia inicial para uma plataforma logística, estaria então em equação a instalação de uma zona industrial com um potencial investimento na área do hidrogénio.
Nos últimos meses a autarquia não se quis mais pronunciar sobre este processo, referindo ainda assim não ter qualquer atualização sobre as démarches efetuadas, afirmando apenas ter acedido aos pedidos do consultor, nomeadamente através da cedência de espaço para reuniões na vila e apoio no transporte.
Perante isto, o mediotejo.net enviou pedido de esclarecimento, por escrito, à MaisConsultores – Rede de Consultores Imobiliários, empresa a que pertence o consultor imobiliário que tem dado a cara por este projeto, não tendo obtido resposta até ao momento.
Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza… também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.
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